Nadir Afonso - Espacillimité
A evolução da arte foi dirigida, até aos nossos dias, no sentido das harmonias estáticas das formas; isto não quer dizer que não poderá empreender uma orientação dinâmica - no verdadeiro sentido da palavra - integrando as leis rítmicas do tempo, ensaiando articular as harmonias espaciais nas harmonias temporais, isto é, tentando animar, mediante um processo técnico cinematográfico, as composições de arte plástica: não teríamos assim unicamente uma imagem, mas uma sucessão de imagens regidas por leis rítmico-geométricas. A verdadeira arte cinética é esta tentativa.
Toda a obra cinética cujo movimento das formas é metrisado por uma sensibilidade desenvolvida neste sentido, isto é, por uma sensibilidade geométrica conjugada a uma sensibilidade rítmica, parece-nos artisticamente válida. Enquanto o movimento permanecer arbitrário (em certos ensaios cinéticos as formas deslocam-se ao acaso ou segundo o gosto dos espectadores), nós estaremos em face de manifestações originais sem relação com a realidade específica da arte.
Por volta de 1950, uma primeira tentativa de promover uma Arte Cinética foi diligenciada por um grupo de artistas ligados à Galeria Denise René. Os problemas técnicos suscitados e a oposição dos conceitos pessoais então manifestados levou o movimento colectivo a um ponto morto; cada qual entendeu vencer ou melhor, contornar as dificuldades à sua maneira.
As composições "Espacillimité" nasceram desse isolamento sequente. Trata-se sobretudo aqui, de respeitar as leis dos espaços e dos ritmos matemáticos. O quadro cinético "Espacillimité" foi nesse caminho o nosso primeiro trabalho.
Não escondemos o "impasse" em que os obstáculos colocam a execução prática duma obra verdadeiramente cinética a nosso ver a noção rítmica do movimento não pode ser atingida senão pela "sugestão" do movimento, e a "sugestão” técnica do movimento não pode ser dada senão pela cinematografia - nada menos de dezasseis imagens controladas por segundo. Deste modo, a hist6ria da arte cinética tem sido acima, de tudo, a história duma procura material e prática capaz de solucionar um problema que é antes e sobretudo de carácter técnico.
© Nadir Afonso